CLÁUDIO TAVARES BARBOSA
( BRASIL - MINAS GERAIS )
Nascimento: 1914 - Conselheiro Lafaiete, MG.
Poeta, novelista, diplomado em Direito, professor.
COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001. 2 v. ISBN 8526007238
BARBOSA, Cláudio Tavares. Acaba mundo e outros poemas. Rio de Janeiro, RJ: 1958. 79 p. No. 10 907
Exemplar doado pelo livreiro BRITO, de Brasília - DF.
ACABA MUNDO
Na rua do Grão Mogol
os líricos incorrigíveis boemizam a vida,
atordoam a vida.
As serenatas,
vestígios de Minas Gerais,
inquietam os pardais,
bolem na sensibilidade dos poetas incuráveis.
Na última avenida
começa a outra vida.
Morrem longe os gritos do século,
os cafés foram invadidos pela guerra que se resolve nas mesas
e que não chega até cá.
Quando o homem quiser ajoelhar-se fora dos templos
e evocar a infância,
aqui se refugiará.
Os mesmos meninos de ronda, cirandas, quebram vidraças.
Os automóveis continuam noturnos
e os perdidos de amor
substituíram os confortáveis aposentos
pela delícia da relva,
pelo compassivo luar.
Acaba Mundo!
No bangalô vermelho,
de abauladas janelas azuis,
o tempo não existe.
Ou então não se condiciona aos relógios,
na certeza das fugas oportunas.
Os montes insistem nos impassíveis convites para a salvação.
As árvores, os ventos, ali estão.
Existem.
Acaba Mundo!
Nunca, Marilia, se há-de acabar.
UM CONVITE MUITO AUDACIOSO
Passamos pelos loucos,
pelos idealistas,
sempre mais ou menos numerosos,
quer na guerra, quer na paz,
pelos lares onde o conforto se instalou provisoriamente,
e pelos outros onde a tristeza foi morar.
Cruzavam automóveis aerodinâmicos,
os namorados efêmeros também passeavam.
Visitamos os enfermos,
não fomos aos hospitais.
Tudo muito igual:
amores, lares, autos, hospitais.
Marília não demorava os olhos,
fugia.
— Vamos até do outro lado?
— Aonde?
— À infância.
Marília sorria.
Tolinha!
— Vamos.
PIEDADE APENAS
Para as crianças.
Não para a que viu espumas na serra
e o sol furando nuvens.
(Algum consolo).
Para as que não brincam
ou apenas brincam de esconder no mar.
Não choremos,
nem gritemos.
Os gritos seriam abafados
e as lágrimas não chegariam até o mar.
HOMEM CONFIANTE
Acontecia a morte.
Vento pelas fendas
corpos apodrecendo a chuva
no chão.
Aconteceu também o sangue
nos seios pobres
nos braços fortes
mãos, peito, membros.
Nas praças,
no campo,
no paiol
DE ESPIGAS
indiferente,
inevitável,
ó morte outrora
mas tão agora.
Há olhos que crescem
e por que não?
Ombros,
mão também.
Se olhos amplos
inundam as ruas,
— tão líquida luz e confiante
que humilha o dia.
E deu-se nas casas,
bosques
escombros e jardins,
um pressentido estremecimento,
— tal o gosto de orvalho,
sabor da manhã.
Aconteceu a mor-
te outrora, pois não?
Agora
a desimportância
do acontecimento.
*
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Página publicada em agosto de 2025.
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